Olhei para o horizonte.
Enquanto inspirava, apagava o som e ensurdecia tudo o que não fosse areia, água e céu.
Quando soltei o ar, já não havia mais nada que a borracha não tivesse apagado.
Dei meu primeiro passo na areia, o segundo, o terceiro e, no quarto, meus pés se uniram.
Continuo?
Vamos.
A vida é um sopro, e ele cutucou meu rosto enquanto eu estava ali.
Sobrou pouco cabelo, mas ele fez cócegas nas minhas bochechas, então eu fechei meus olhos enquanto levantava o queixo, prendendo, com os dedos, os fios soltos atrás da orelha.
Meus olhos abertos são agora daquele mesmo verde azulado infinito do horizonte, com aquela mesma imensidão de água presa.
A sequência do som que eu escuto é o meu coração
Hora as ondas vêm e molham os meus pés, hora elas não me veem.
Bate o vento e os grãos do meu corpo vão se espalhando sobre as conchas do mar
É tarde demais para recolher o que o vento já espalhou.
Meus joelhos caem ao chão, sem força, como aquela estrela do mar ali, que a correnteza trouxe...
Meus braços se esticam e minhas mãos, unidas, a recolhem.
A maresia é tão salgada quanto o sabor dos meus lábios
Fico ou vou?
Vou...
De joelhos, dou mais dois passos e sento em cima do que costumava ser os meus pés.
Meu corpo agora se transborda com o mar
O que fui, o que fiz
O que senti, o que amei
O tempo e as histórias
E a dor, toda dor,
Daquele mesmo sorriso torto
A fome, o calafrio
O desejo, os sonhos, os encantos
As decepções, a monotonia
A guerra fria, os soluços
Eu sei quem eu não sou
Olhos fechados, nó na garganta
Memórias, saudades, vazio
Faz frio, que confusão!
Deixo a dor deixar...
Faz tanto frio, como faz frio
Expiro abrindo lentamente os meus olhos inchados...
O sol se foi!
E eu reflito agora o brilho da lua e o relento da noite
Aperto os meus braços em um longo abraço...
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